O Agoniado Pensante

Se tem uma coisa que me desagrada, é um dia desagradável.
Vou contextualizar:
Tive dois dias muito agradáveis, produtivos, criativos, cheios de vida — mas neles, não fiz aquilo que era a maior urgência. No terceiro dia, quando as “obrigações” falam mais alto, tenho então a experiência desconfortável de não poder criar.

Após o processo depressivo, me dei conta de que ser criativo não é apenas uma habilidade; no meu caso, tem se tornado uma forma de me sentir vivo. Então, se não estou criando, me sinto engessado.

Até a criatividade, quando se torna obrigação, deixa de ser criatividade — e se torna apenas “atividade”: algo que preciso fazer, e ponto. Como um adulto resignado, agoniado e pensante, simplesmente preciso fazer… e passar pela tortura do trabalho.

Posso amar muito o que faço, mas não amo ter que fazer dentro de um tempo delimitado. Essa é, com certeza, a razão pela qual fujo do CLT e escolho as incertezas e oscilações do trabalho autônomo.

Conto com a boa vontade de amigos que passam pela mesma experiência para me lembrarem de que ser autônomo é ter momentos de alta e momentos de baixa, lidar com as oscilações do mercado e aprender, cada vez mais, a guardar dinheiro.

Por azar, fui um mal-educado financeiro até os 34 anos. Tem somente dois anos que a situação mudou. Busquei lidar psicologicamente com o dinheiro e com o merecimento — e, depois, busquei ajuda profissional: mentoria financeira.

Hoje, me percebo “alfabetizado” financeiramente, mas confesso que ainda há um longo caminho a trilhar até a tão sonhada liberdade.

Os dias desagradáveis seguem e servem para alimentar uma fantasia dentro de mim: de que um dia irei trabalhar só por hobby e viverei de “renda”.

No fundo, no fundo, acredito mesmo nessa ideia. Ao mesmo tempo, sei que, se tiver dinheiro caindo na conta e não puder expressar todo o meu potencial criativo, não estarei feliz. Por isso resolvi, no fim do dia, escrever este texto — em um dia “desagradável”.

Para finalizar, uma confissão: o dia não foi tão desagradável assim. Cumpri com as obrigações, o que, no fim, traz alívio para a alma. E ainda consegui espaço para praticar yoga, caminhar, respirar, tomar café e escrever. Como tem sido bom escrever!

Que eu possa seguir agoniado pensante — afinal, o desconforto é uma potência criativa querendo espaço para existir.


Quem sabe?

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