ArborecidaMente

“As crianças que pensam de forma divergente têm dificuldade com o esquema organizacional dos adultos que pensam de forma linear, pois tendem a ver as coisas de forma holística e dar saltos intuitivos para corrigir as respostas.”
Angela Virgolim

Para além das crianças superdotadas, adultos também seguem com o raciocínio holístico. Às vezes, me vejo dirigindo pela cidade, passo por uma viatura da polícia. Essa palavra me soa bem: “poli” e “cia”. Será que vem de pólis? Na Grécia antiga, a pólis era o espaço público, a cidade. Com certeza, naquele tempo, o ar era mais puro, havia menos edificações, menos poluentes no ar. Enquanto hoje seguimos nas cidades, tem um livro de Eça de Queiroz que se chama “A Cidade e as Serras”. Me parece um título bom, mas ainda não parei para ler. Como vim parar em literatura? Ah sim! Estava dirigindo o carro.

E é engraçado quando minha esposa se dá conta de que estou calado e pergunta:

– No que está pensando?

Respondo quase que automaticamente:

– Em nada.

Quando, na realidade, não sei nem como explicar os diversos pensamentos que se conectaram, sem linearidade alguma dentro de minha mente. Às vezes, até esqueço (não sei se devido ao possível TDAH) onde foi que comecei o raciocínio. Angela Virgolim vai chamar essa forma de raciocinar de “pensamento divergente e criativo”. Também é comum chamar de “pensamento holístico”, “pensamento arborizado” ou “pensamento em arborização”, remetendo às ramificações que são criadas a partir de um único pensamento.

De todas as características de superdotados, talvez essa seja a que mais me defina, a primeira que reconheci em mim mesmo. Por isso, também quis remeter a ela este blog. Pensei que “ArborecidaMente” poderia ser um ponto de convergência com meus leitores que também se identificam com Altas Habilidades.

Outra característica sobre o pensamento arborizado que percebo hoje, como adulto, são as respostas muitas vezes automáticas sobre a previsibilidade de situações que não têm uma explicação lógica imediata, mas que tendem a se concretizar. Isso entendo que se deve à capacidade do cérebro em reconhecer padrões. Por exemplo, com certa frequência, assistindo a um filme ou série, consigo imaginar o desfecho ou as próximas cenas.

Vejo isso como algo divertido, brinco que sou vidente e não explico nada, mas, como gosto de pensar: é óbvio.

Não sei em qual momento me dei conta de que minha forma de raciocinar é divergente. Já tive situações de impaciência com pessoas que pensam “devagar”, assim como também já me senti muito “burro” diante de um raciocínio que não funcionou, de uma resposta que não obtive. Por, às vezes, me colocar em situações de tentar compreender algo que não me interessava, vários foram os livros que comecei e não terminei a leitura.

Hoje posso dizer que me divirto com minha própria forma de pensar, em começar na maionese e terminar em como as galinhas estão sendo tratadas na granja. Afinal, como diz Angela Virgolim, uma das maiores especialistas em Superdotação no Brasil: “Pensadores divergentes gostam de seguir a novidade de uma ideia e ver aonde ela leva e que padrão elas seguem.”

Isto é uma mente “arborecida”. E aqui é um espaço para que possamos nos conectar “arborecidamente”. Que tal? Como seria dar espaço para todo o potencial criativo da sua cabeça?

Referências

Caso queria ler mais sobre o tema, recomendo o artigo da Angela Virgolin:

VIRGOLIN, Angela. As vulnerabilidades das altas habilidades e superdotação: questões sociocognitivas e afetivas. Educar em Revista, Curitiba, v. 37, e81543, 2021.

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